quarta-feira, 28 de maio de 2008

A “emergência” do Animador Sociocultural

Segundo Avelino Bento, (2003) “o(a) animador Sóciocultural é, de facto, um(a) agente do desenvolvimento. Por essa circunstância, deve desempenhar funções gerais ou específicas conducentes ao êxito da melhoria da qualidade de vida das populações: comprometendo-se a estar atento à tradição e inovação cultural, obrigando-se a incentivar, apelar e organizar a participação dos indivíduos e tornando-se um ponto de referência dos valores e da democracia.”
De acordo com a ANASC (Associação Nacional de Animadores Socioculturais, Coimbra, 1999), “o animador sociocultural é todo aquele que, sendo possuidor de formação adequada, é capaz de elaborar e/ou executar um plano de intervenção, numa comunidade, instituição ou organismo, utilizando técnicas culturais, sociais, educacionais, desportivas, narrativas e lúdicas”, visando alcançar objectivos de animação e dinamização socioculturais.
“A necessidade de animadores, manifesta-se historicamente sobretudo nos movimentos de juventude que exigem educadores capazes de se dedicarem neste tipo de trabalho. A UNESCO na Conferência Internacional sobre a juventude celebrada em Grenoble em 1964, fez sentir a necessidade urgente de animadores, tanto no campo da juventude, como na educação permanente e a acção cultural.”
O termo animador provém da França e aos poucos foi-se introduzindo nos ouros países da Europa. Este está relacionado com todo um processo de mentalização, sensibilização e actuação de carácter social, cultural e educativo. Inicialmente este vocábulo estava relacionado com o domínio da vida, cultura popular, ocupação do tempo livre e era utilizado para os animadores voluntários.
Assim, “o termo “Animador Sóciocultural” deverá ser apenas utilizado para os agentes de animação” (ministério da Educação, 1992) que intervém na vida social e cultural em interacção com um grupo e actuando numa determinada área da animação.
O animador é “pessoa capaz de estimular a participação activa da gente e de insuflar um maior dinamismo sócio-cultural, tanto no individual como no colectivo.”
Dentro de um determinado grupo o animador deve ter a missão de “dar a todos a possibilidade de serem iguais, compensar os desequilíbrios socioculturais e contribuir para a interacção dentro da comunidade”. “O animador contribui para desenvolver e reforçar o espírito comunitário e o sentido cívico (…), que exigirá cada vez mais a participação e a solidariedade de todos.” Neste sentido, o animador é um agente de desenvolvimento dos indivíduos, dos grupos e das comunidades que, intervindo num determinado meio, promove a mudança e o encontro de soluções que dêem resposta aos interesses e necessidades do público envolvido.
Atendendo que animação é um programa de recriação integral, o animador sociocultural deverá ter em conta um vasto conjunto de actividades. Actividades estas que passam não só pela organização, execução e coordenação das actividades de animação, mas também, pelo ser capaz de captar desejos do seu público, adaptando-as às realidades concretas dos indivíduos.
Tal como o conceito de animação, existem também várias definições de animador. De entre os diversos autores que se dedicam ao estudo desta temática, destaco os seguintes:
Quintana, J. M.ª (1985): “O Animador Sócio-cultural há-de ter a capacidade para mandar sem dirigir, resistência à frustração, dinamismo, responsabilidade, entrega, compreensão, capacidade de comunicação e espírito democrático.”
Besnard, P. (1984): O animador Sócio-cultural é um “agente de desenvolvimento dos indivíduos e dos grupos, cuja acção profissional ou voluntária, se caracteriza por uma intervenção sobre o meio, a nível das relações entre os indivíduos e as obras culturais e eventualmente, a nível das estruturas.”
Segundo o mesmo autor “esta acção, às vezes fundamentada por princípios e valores, que se situam num quadro institucional que pode tomar diversas formas (associações, equipamentos sócio-culturais, colectividades locais, instituições culturais, ministérios). Acções que necessita de técnicas variadas que exigem do animador competência, qualificação e cubra múltiplas práticas de tipo cultural, artístico, estético, social, desportivo, manual…, realizadas por públicos homogéneos e diferenciados (o conjunto duma população ou trabalhadores, as classes médias, os jovens, os maiores, as mulheres)". No meu entender, um animador deve ser um indivíduo que possua uma determinada sensibilidade para as relações humanas, que através do contacto com os grupos ou comunidades é capaz de desenvolver as potencialidades dos vários elementos do meio em que se propõe intervir, de forma a produzir dinâmicas, e a promover valores, a nível pessoal, de grupo e comunitário.

Características


O animador Sociocultural é um indivíduo dinâmico que pretende pôr em prática o sistema de valores em que acredita. É responsável, sociável e gosta de partilhar responsabilidades no trabalho em equipa. É aberto à mudança e sabe ouvir os outros sem lhes alterar as ideias. Apresenta-se ainda, como um interventor a nível social e cultural e também educacional, que sabe descobrir e estimular as potencialidades de cada indivíduo e dos grupos, e adaptar-se constantemente ao público e ao espaço social onde está a desempenhar as suas funções.
Apesar da variedade de animadores nas diversas áreas da animação, existem características que são comuns a todos, sendo assim o animador é:
· “Um educador, apesar de nem todos estarem de acordo em identificar o animador com um educador; todavia, há unanimidade na altura de aceitar que é um dinamizador, um mobilizador, como o seu próprio nome indica. Neste sentido, pode considerar-se educador, visto que pretende provocar uma mudança de atitudes, da passividade à actividade.
· Um agente social, visto que exerce esta animação não com indivíduos isolados, mas com grupos ou colectivos os quais tenta envolver numa acção conjunta, desde o mais elementar até ao mais comprometido.
· Um relacionador (relações públicas), capaz de estabelecer uma comunicação positiva entre pessoas, grupos e comunidades e de todos eles com as instituições sociais e com os organismos públicos. (…) É esta a sua característica mais definitiva e peculiar, a que o diferencia de outras profissões afins".

Funções

O animador é uma “peça” fundamental no puzzle que é animação. Ele deverá levar o grupo a questionar-se e a encontrar as suas respostas, deverá incutir dinamismo num grupo.
“Como profissão, a animação diversifica-se em funções que correspondem às acções de impulso, de iniciativa, de organização, que destacamos precedentemente. Os animadores exercem uma função de características globais e técnicas.”
O animador no seu dia a dia tem de exercer papéis diferenciados de acordo com as características do trabalho que desenvolve, pois as instituições, as pessoas, os grupos humanos, as exigências variam de lugar para lugar.
Segundo Ander-Egg, (1999) as funções do animador na vida do grupo devem “proporcionar assessoria técnica para que o grupo ou colectivo encontre resposta às suas necessidades, problemas e se capacite para organizar e conduzir as suas próprias actividades. Contribuir para que as pessoas envolvidas nestes programas recuperem, sistematizem, evoluam e implantem as suas próprias práticas sócio-culturais, como forma de animar e acrescentar protagonismo popular. Animar, vitalizar e dinamizar as energias e potencialidades existentes entre as pessoas, grupos e colectividades.”
Segundo o mesmo autor, existe um conjunto de funções que são comuns a todos os animadores, assim os animadores devem:
· Potenciar as relações interpessoais e favorecê-las entre os membros do grupo, visto ser neste que o Homem aprende a viver com os restantes elementos, dando a cada um a possibilidade de se desenvolver no seio do grupo;
· Criar atitudes de cooperação, intercâmbios culturais, comunicação e conhecimentos sobre a base das relações pessoais elaboradas e disponibilidade para actuar conjuntamente com os outros;
· Ajudar o grupo a encontrar soluções para os seus problemas, motivando os mesmos a realizar o seu próprio projecto;
· Coordenar actividades, estabelecendo prazos para a realização do mesmo, supervisionando e avaliando para corrigir os desajustes que se produzam;
· Harmonizar a realidade com a acção, reconhecendo o meio em aspectos como o espaço, população e recursos;
· Planificar, coordenar e avaliar programas de intervenção social.

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