quarta-feira, 28 de maio de 2008

Da Antiguidade aos nossos dias

Na época contemporânea, quando se denota, nas comunidades nacionais e internacionais inquietação face ao consumo de heroína, cocaína ou crack, faz com que se proceda a uma investigação genealógica destas formas de adicçao.
O uso actual daquelas substâncias inscreve-se num percurso de continuidade histórica, em que a utilização de determinados produtos constituem um rito social.
Há referências históricas e literárias a substâncias das quais o homem procurou interferir no seu próprio equilíbrio biopsiquico e na relação mantida com o ecossistema.
A bíblia num dos seus primeiros registos diz que Noé, saído da arca do dilúvio, plantou uma vinha e bebeu vinho até se embriagar, seria o vinho a primeira droga que a humanidade conheceu? Até porque Noé, desnudou-se, depois de beber o vinho, evidenciando assim o efeito desinibidor do vinho.
No início da idade Média, chega a informação sobre a “mirra”, servia como tonificante farmacêutico e com o intuito recreativo e medicinais. Os gregos e Romoanos tomaram um preparado de vinho, cânhamo e mirra, “o vino resinato”.
A medicina grega encontrou no ópio um remédio, desde o século X a.c, foi proclamado o ópio como o produto mais universal eficaz para a cura as maleitas.
As tábuas de argila súmerios, achadas na Mesopotâmia, descrevem o cultivo da papoila e a preparação do ópio, cujas virtudes terapêuticas eram conhecidas na Pérsia e no Egipto, cerca de 1550 A.C.
A coca foi conhecida há 600 a.c; as escavações arqueológicas permitiram descobrir múmias de índios, sepultados com folhas de coca, nos sarcófagos.
Os colonizadores, tudo fizeram para que perdessem o hábito de mascar as folhas de coca, mas deram-se conta de que essa habituação estimulava as capacidades laborais dos índios, que trabalhavam em condições deploráveis, passando a incentivar o cultivo e o consumo e adoptaram também o seu uso.
No México, as perseguições pelo Santo Oficio, não foram, durante a colonização espanhola suficientes para erradicar esse hábito.


Ao longo da Historia, vários povos serviram-se do consumo de espécies botânicas enquanto instrumento condutor de uma maior aproximação com as divindades, utilizando-as em rituais religiosos ou em ritos de iniciação e passagem.
A droga tem funcionado entre os Homens e o desconhecido, como uma ponte entre a vida real e o além.
A droga expande-se muito à custa do inicio das expansões portuguesa e Castelhana vieram gerar um novo conhecimento e difusão quer dos produtos utilizados noutras paragens, como alimentos e bebidas, ou enquanto substancias que interferem na consciência humana.
As descobertas Portuguesas, vieram dar a conhecer um mercado até então desconhecido. Foi o ópio que se destacou na rota comercial entre a Índia e Lisboa.
Foi até decretado que se cultivasse o ópio para fins de lucro para o Reino:
- mandai plantar dormideiras das ilhas dos Açores, em todos os pauis de Portugal, e mandai fazer ópio, que é a melhor mercadoria que se encontra nestas partes, e em que se ganha dinheiro…a gente da Índia perde-se sem ele se não o comem.
Nos anos 600/700 o consumo de haxixe e ópio era considerado pelos aristocratas como um vício luxuoso e excêntrico reservado ás elites. Quando nos dias de hoje a comunidade internacional se vê confrontada com o problema da toxicodependência, verifica-se que este problema já surgiu há muitos séculos atrás, tempos houve em que o humanista do Ocidente, processo de desumanidade, empreendeu guerras para defender e impor o seu direito de exportar estupefacientes, ou seja, de vender com lucro, a destruição e a morte.
Nos finais do século XIX, a cocaína é considerada a droga da moda entre artistas e intelectuais, substituindo o uso do haxixe e do ópio, sendo que a sua divulgação atingiu proporções enormes, nos EUA foi utilizada na Coca-cola, na Europa com a sua adição foram comercializados vários produtos, como o “vinho Mariani” que era consumido pelo Papa Leão XIII.


A partir dos anos 50 o uso de drogas dispara de uma forma brutal e gerou o susto, com o aparecimento do SIDA.
O L.S.D. depois de utilizado como terapia a nível psiquiátrico, é adoptado pelo submundo das drogas como um produto privilegiado e popularizado sobretudo pela cultura “Hippy”.
Nos anos 60/70 viveram-se grandes iniciativas massificadas tendo a droga como objectivo comum, tais como:
· A marcha sobre o Pentágono e o trips festival em s. Francisco no ano de 1967;
· A concentração de Chicago em 1968:
· E o mítico Festival Woodstock que reuniu mais de quinhentos mil espectadores e que tinha como lema: “SEX, DRUGS & ROCK´N`ROLL”
A partir dos anos 70 assistiu-se ao incremento do consumo de drogas, com preferência pelas drogas duras como a Cocaína e pela Heroína, por esta altura começa também a produção de drogas sintéticas.
Enquanto isto acontece alargam-se as faixas etárias que consomem, incluindo crianças e adolescentes.
A droga saiu dos bairros dos intelectuais e artistas e invadiu cidades e aldeias, áreas mais pobres e socialmente mais desfavorecidas.
A sociedade contemporânea é altamente competitiva e há quem não olhe a meios para atingir os fins que pretende. A primazia do prazer, o poder material, tem vindo a sobrepor-se aos valores culturais, religiosos, e a outros valores sociais, valores do ser humano.
A forma como o jovem se sente na vida face aos seus desejos e inquietações, face á auto-estima, face aos colegas, face à sua família, pode ser o regulador da disponibilidade para esta atitude da moda: o consumo.

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